Verbetes
U-507
Submarino alemão tipo IXC, de longo alcance, pertencente a Kregsmarine, atuou no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e possuía como alvos os navios de carga que transportassem suprimentos e material bélico com destino à Europa, sendo comandado pelo alemão capitão de corveta Harro Schacht que, pelos seus feitos, ganharia notoriedade na Alemanha nazista.
Em 7 de agosto de 1942 ele teria recebido de Karl Doenitz, coordenador das atividades dos Uboote, uma permissão para usar “manobras livres” ao longo da costa brasileira. Assim, o U-507 afundou cinco navios brasileiros de cabotagem, Baependi, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagira e Arará na faixa litorânea entre Bahia e Sergipe, entre 15 e 16 de agosto de 1942, resultando mais de 600 mortos. Diante disso o governo brasileiro declara guerra aos países do Eixo, quebrando sua “neutralidade”.
Para saber mais:
www.portalfeb.com.br/documentário-u-507
www.u-507.com www.u-historia.com
Baependi
Paquete que transportava tanto carga quanto passageiros, comandado pelo Capitão-de-Longo-Curso João Soares da Silva, fora construído em 1899, nos estaleiros da Blohm & Voss, de Hamburgo, propriedade da Cia. de Navegação Loyd Brasileiro, e que na noite de 15 de agosto de 1942 fora torpedeado pelo U-507, sendo o primeiro alvo da série de seis ataques que o referido submarino praticou na costa do Nordeste brasileiro. O número de vítimas foi o mais elevado em relação aos outros torpedeamentos da série: 270 mortos.
Publicado em:
BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas. Baependi. In: MAYNARD, Dilton Cândido Santos; MONTEIRO, Vivian Cruz. Lugares, personagens e outras coisas de Sergipe. Recife: EDUPE, 2021.
Aníbal Benévolo
PNavio brasileiro de cabotagem, comandado pelo Capitão-de-Longo-Curso Henrique Jacques Mascarenhas Silveira, destinado ao transporte de cargas e passageiro, fora torpedeado pelo U-507, em 16 de agosto de 1942, no estuário sergipano.
O navio foi completado em abril de 1905, nos estaleiros da Reiherstieg Schiffswerfte & Maschinenfabrik, em Hamburgo, na Alemanha, mesma cidade onde seria construído o U-507, em 1940. Em 1931 foi renomeado Aníbal Benévolo, nome que ostentou até o seu afundamento onze anos depois, em homenagem ao tenente do exército e revolucionário, de mesmo nome, morto em novembro de 1924, durante a revolta tenentista que eclodiu no Rio Grande do Sul, a qual daria origem, meses depois, à Coluna Prestes.
Publicado em:
BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas. Aníbal Benévolo. In: MAYNARD, Dilton Cândido Santos; MONTEIRO, Vivian Cruz. Lugares, personagens e outras coisas de Sergipe. Recife: EDUPE, 2021.
Araraquara
Navio brasileiro de carga e de passageiros, sob o comando de Lauro Augusto Teixeira de Freitas, afundado em 17 de agosto de 1942. O Araraquara foi lançado em 1º de agosto de 1927, sendo completado em outubro daquele mesmo ano, nos estaleiros do Cantiere Navale Triestino, em Monfalcone, perto de Trieste, na Itália, sob encomenda do Lloyd Nacional, seu primeiro e único proprietário.
Publicado em:
BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas. Araraquara. In: MAYNARD, Dilton Cândido Santos; MONTEIRO, Vivian Cruz. Lugares, personagens e outras coisas de Sergipe. Recife: EDUPE, 2021.
Itagiba
Após o Baependi, o Araraquara e o Aníbal Benévolo, foi a vez do Itagiba ser atacado pelo U-507. A embarcação saiu do porto do Rio de Janeiro no dia 13 de agosto de 1942 com destino a Recife (PE), com escalas programadas nas cidades de Vitória (ES) e de Salvador (BA). Foi justamente após essa segunda parada, quando navegava em direção ao estado de Sergipe, na altura do povoado conhecido por Morro de São Paulo, que o navio foi atingido pelo submarino alemão às 10h49min da manhã. Sob o comando do capitão José Ricardo Nunes, o Arará transportava 179 pessoas, sendo 60 tripulantes e 119 passageiros. Ao todo, foram registradas 41 mortes e 138 conseguiram se salvar. Relatos que alguns sobreviventes, como o de José Ricardo Nunes e o do médico Helio Veloso, primeiro sobrevivente que chegou à Bahia, contribuíram para o entendimento de como ocorreu o torpedeamento do Itagiba, que foi socorrido por outra embarcação agredida pelo U-507, o Arará.
Para saber mais, ver:
- CRUZ, Luiz Antônio Pinto. A Guerra do Atlântico na Costa do Brasil: rastros, restos e aura dos U-boats no litoral de Sergipe e da Bahia (1942-1945). 358 f. Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.
- MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
Arará
Também no dia 17 de agosto de 1942, logo após o Itagiba, foi a vez do Arará ser atacado pelo U-507. O cargueiro, comandado pelo capitão José Coelho Gomes, resgatava as vítimas do Itagiba quando foi atacado, também na região do Morro de São Paulo, às 13h03min. De acordo com o depoimento do capitão, nesse momento já haviam sido recolhidos para bordo 18 náufragos do Itagiba, entre eles um sargento e quatro maquinistas. No que se refere aos tripulantes do Arará, registros documentais apontam que de 35 passageiros que estavam a bordo, 14 conseguiram sobreviver e 21 morreram. Tanto os sobreviventes do Itagiba como do Arará foram ajudados pelo iate Agaripe, que chegou a Salvador no dia de 21de agosto de 1942. O fato de o Arará ter sido agredido enquanto operava no resgate das vítimas do Itagiba evidencia que a intenção do submarino alemão era afundar o máximo de embarcações possível, bem como matar seus passageiros. Vale ressaltar, nesse sentido, que esses navios não ofereciam nenhum risco às estratégias de guerra da Alemanha no oceano Atlântico. Assim, entende-se que a ação do U-507 foi uma forma de retaliar o Brasil diante do rompimento do alinhamento aos Aliados e do rompimento das relações diplomáticas e comerciais com o Eixo, ocorrido em janeiro de 1942.
Para saber mais, ver:
- CRUZ, Luiz Antônio Pinto. A Guerra do Atlântico na Costa do Brasil: rastros, restos e aura dos U-boats no litoral de Sergipe e da Bahia (1942-1945). 358 f. Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.
- MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
A imprensa local e a divulgação da notícia dos torpedeamentos
Em virtude das restrições impostas pelo Estado Novo, as informações sobre os torpedeamentos demoraram a circular. Na manhã de 18 de agosto de 1942, jornais como a Folha da Manhã divulgavam o ocorrido: “Ontem, a cidade logo cedo, foi surpreendida com a triste notícia de que tinha sido torpedeado o vapor brasileiro Baependi, em águas sergipanas próximo à costa de Estância. Mais tarde novas notícias. Mais dois navios nacionais tinham sido vítimas das emboscadas do Eixo”.
Divulgava-se oficialmente que ante aquelas notícias alarmantes, a cidade de Aracaju teria ficado “profundamente consternada” e a prova seria que o comércio não abrira mais as portas e que “todos, chorando a sorte de seus irmãos, vítimas da selvageria nazista, sentidos até o íntimo da alma e indignados com o torpe e covarde atentado dos agentes totalitários que, tripudiando por sobre as vítimas indefesas impotentes de reagir, trucidaram velhos, senhoras mães de família, jovens e criancinhas inocentes, perambulavam pelas ruas em busca de notícias novas que viessem esclarecer mais o bárbaro torpedeamento dos vapores brasileiros”.
Com a notícia dos torpedeamentos das outras duas embarcações, Itagiba e Arara, informava-se que se tinha redobrado “a consternação do povo e a sua indignação chega ao auge. Os colegiais agora engrossados pela massa do povo grita e pede desforra”.
Fonte:
Folha da Manhã, Aju. 18 ago. 1942, 1
Repercussão nacional dos torpedeamentos
As primeiras notícias acerca dos torpedeamentos às embarcações brasileiras não foram imediatas. Com o intuito de evitar um pânico maior que o que já havia sido gerado, o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda de Sergipe (DEIP/SE) atuou a fim de controlar a divulgação de qualquer informação sobre os ataques sofridos em território nacional. Apenas no dia 17 de agosto de 1942 a Agência Nacional autorizou que a imprensa local pudesse publicar os primeiros noticiários sobre o episódio. Mas a repercussão das agressões não ficou restrita apenas a Sergipe. Os ataques do U-507 no litoral baiano e sergipano repercutiu também na imprensa nacional, com grandes jornais da época noticiando os torpedeamentos de forma destacada. Na capital do país por exemplo, o Jornal do Brasil e o Correio da Manhã publicaram na capa de suas edições as seguintes manchetes, respectivamente: “Mais um inominavel atentado contra o Brasil” e “Afundados pelos submarinos nazistas mais cinco navios brasileiros: o “Baependi”, o “Anibal Benévolo”, o “Araraquara”, o “Itagiba” e o Araras” foram atacados próximo do litoral, quando navegavam entre Baía e Sergipe”. A gravidade do acontecimento, que inclusive serviu de estopim para a declaração de guerra do Brasil ao Eixo, ajuda a explicar tamanha reverberação.
Para saber mais, ver: CRUZ, Luiz Antônio Pinto; ARAS, Lina Maria Brandão de. Aracaju amedrontada: a ação do U-507 na costa sergipana (1942). In: PEDREIRA, Flávia de Sá (Org.). Nordeste do Brasil na II Guerra Mundial. São Paulo: LCTE Editora, 2019, p. 11-36.
MAYNARD, Dilton Cândido Santos. Noites de terror em mar e terra: o cotidiano em Aracaju (1942-1945). In: PEDREIRA, Flávia de Sá (Org.). Nordeste do Brasil na II Guerra Mundial. São Paulo: LCTE Editora, 2019, p. 11-36.
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Hemeroteca Digital: Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 18 ago. 1942. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/>. FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Hemeroteca Digital: Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 18 ago. 1942. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/>.
Augusto Maynard Gomes
Nasceu no município de Rosário do Catete, no engenho Campo Redondo, em 16 de fevereiro de 1886. Militar e político, liderou os movimentos “revolucionários” de 13 de julho de 1924 e 19 de janeiro de 1926, depondo Graccho Cardoso. Foi Interventor Federal de Sergipe (1930-1935 e 1942-1945), Comandante do 28 BC (1937-1939), Ministro do Tribunal de Segurança Nacional (1940-1942) e Senador (1947-1951 e 1955-1957). Faleceu no Rio de Janeiro em 14 de agosto de 1957.Augusto Maynard era o interventor de Sergipe na ocasião dos torpedeamentos das embarcações na costa sergipana, em 1942, e presenciou os atos de uma população consternada com todo aquele episódio. Após parte da população ter saqueado e depredado as propriedades de supostos colaboradores do Eixo, seguiu para o Palácio do Governo, na Praça Fausto Cardoso, para exigir ao interventor providências. Em 23 de agosto de 1942, pessoas se reuniram a noite naquela praça para ouvir o pronunciamento de Maynard Gomes, que, “sabendo de tudo tirar algum proveito”, apresentava-se como porta-voz dos anseios da massa e encerrou o discurso dizendo: “Sergipanos! Preparai-vos para a guerra.”
Para saber mais:
DANTAS, Ibarê. História de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasiliense, 2004.
_________. O tenentismo em Sergipe: da Revolta de 1924 à Revolução de 1930. Aracaju: Gráfica Editora J. Andrade Ltda. 2ª edição.1999.
BARRETO, Luiz Antônio. Dicionário de nomes e denominações de Aracaju. Aracaju: Banese, 2002.
Praia de Atalaia
Considerada pelo cronista Mário Cabral, em 1948, uma das mais belas praias do Nordeste brasileiro, e atualmente uma das praias urbanas mais frequentadas, a praia de Atalaia confere o título de atração turística ao bairro de mesmo nome, situado ao sul da cidade de Aracaju.
A paisagem natural até a primeira metade do século XX era típica de um ecossistema litorâneo, com dunas e manguezais. Até 1930 possuía difícil acesso, sendo habitada apenas por pescadores e sitiantes que, após o recuo do mar, fora ocupando os terrenos e construindo as primeiras moradias. A vida cotidiana das primeiras comunidades dedicava-se aos banhos no Rio Poxim, e a prática da pesca e do roçado.
Em 1942, momento em que Sergipe fora surpreendido pelos cadáveres dos torpedeamentos na costa brasileira no contexto da Segunda Guerra, os moradores da praia de Atalaia passaram a se deparar com cadáveres dos passageiros dos navios atingidos na costa e, sem saber ao certo o que tinha ocorrido, assistiram a vinda de pessoas de estados próximos, como a Bahia por exemplo, em busca de notícias de parentes desaparecidos em virtude dos naufrágios, além de muitos do local terem se prestado a ajudar na coleta e no sepultamento dos corpos.
Para saber mais: CORRÊA, Isabella Cristina Chagas; VARGAS, Maria Augusta Mundim. Memória e identidade: traços da festa de Bom Jesus dos navegantes no Bairro Atalaia – Aracaju/SE. Disponível em: http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/
1308313623_ARQUIVO_CONGRESSOCONLAB%5b1%5dfinalizado.pdf , acessado em 03/03/2015.MELINS, Murilo. Aracaju romântica que vi e vivi: anos 40 e 50. Aracaju: UNIT, 2010.
Torpedeamentos: as vítimas
Estima-se que cerca de 837 pessoas estavam a bordo do Baependi, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará quando as embarcações foram atacadas pelo U-507. Entre as vítimas estavam homens, mulheres e crianças, civis e militares. Destas, cerca de 652 morreram em decorrência dos afundamentos. Entre os sobreviventes, dezenas conseguiram chegar às praias sergipanas apresentando ferimentos, contusões generalizadas e escoriações, bem como relatos do drama que vivenciaram após os torpedeamentos. Todos foram acolhidos pelo governo local e encaminhados para hospitais e hotéis da capital Aracaju. Mas além dos sobreviventes, também vieram parar em Sergipe inúmeros cadáveres das vítimas fatais, que chegavam em estado crítico de conservação, muitos deles nus, mutilados, corroídos, inchados e parcialmente comidos pelos peixes. Alguns deles vinham acompanhados de pertences pessoais como joias, sapatos, roupas e carteiras, o que contribuiu para a identificação desses corpos, muitos deles enterrados na própria na areia das praias devido a falta de estrutura da capital sergipana em lidar com tamanha tragédia, que chegou a ser definida como o “Pearl Harbor Brasileiro”.
Para saber mais, ver:
ASSIS, Raquel Anne Lima de. Sergipe, 1942 e o ataque do submarino u-507: algumas notas sobre suas vítimas. In: MAYNARD, Andreza S. C.; BARBOSA, Caroline de Alencar.; MAYNARD, Dilton C. S. (Orgs.). Segunda Guerra: Histórias de Sergipe. Recife: EDUPE, 2016, p. 11-33.
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
Nelson de Rubina
Horácio Nelson Bittencourt, mais conhecido como Nelson de Rubina, nasceu em 1903 no município de Maruim, tendo Horácio Nelson Bittencourt e dona Rubina Santos por pais. Se apresentando oficialmente como um comerciante de artigos diversos, em 1942 foi preso por furto e vilipêndio ao cadáver de Virgínia Auto de Andrade, uma das vítimas dos torpedeamentos pelo U-507 na costa brasileira.
No contexto da Segunda Guerra Mundial e dos torpedeamentos de embarcações brasileiras pelo U-507, submarino alemão em missão no Atlântico, Nelson de Rubina dirigiu-se, acompanhado por um grupo de quatro pessoas, à praia de Atalaia, região onde davam os corpos dos navios torpedeados e, ao se deparar com um cadáver de mulher que carregava três anéis, retirou as joias, vendendo-as posteriormente em proveito próprio. Justamente por este motivo foi recolhido, em 26 de novembro de 1942, na Penitenciária do Estado de Sergipe.
Apesar de ser evidente que Nelson de Rubina não fora o único a tentar se aproveitar de toda aquela situação, o seu caso fora oficialmente considerado “algo único” para a “solidária” sociedade sergipana da época.
Para saber mais:
BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas. O Caso de Nelson de Rubina: guerra e cotidiano em Aracaju (1942 – 1943). São Cristóvão, SE, 2015. Monografia (Bacharelado em História) – Departamento de História, Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, 2015. Disponível em: https://ri.ufs.br/handle/riufs/7308
Enoch Santiago
Nascido em 10 de novembro de 1892 na cidade de Lagarto, filho de Ivo do Santiago Matusalém e Maria Bemvinda. Em 1925 bacharelou-se na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais da Bahia. Exerceu a promotoria pública de Aracaju até 1932, ano que assumiria a função de Procurador Fiscal dos Feitos da Fazenda. Em 1935 foi nomeado Juiz de Direito de Santo Antônio de Vila Nova, hoje Neópolis, sendo pouco depois transferido para a comarca de Maruim. Em 10 de novembro de 1937, Enoch Santiago viu-se obrigado a se aposentar, transferindo-se para Itabuna, ao sul da Bahia, onde assumiu o cargo de secretário da OAB.
Com Augusto Maynard reassumindo o Governo de Sergipe, Enoch Santiago retorna ao estado e, a partir de 30 de maio de 1942, assume o cargo de Chefe de Polícia do Estado, permanecendo no mesmo até fevereiro de 1943, ano que fora nomeado Juiz de Direito da 1ª Vara da Comarca de Aracaju. Em 1945 foi nomeado Desembargador do Tribunal de Justiça, cargo que desempenhou até sua morte, em 16 de fevereiro de 1957.Foi como chefe de Polícia, em 1942, que Enoch Santiago teve contato direto com o único caso registrado oficialmente envolvendo um sergipano, Nelson de Rubina, que se dirigiu à Praia de Atalaia, região onde davam os corpos das vítimas do U-507, e furtou três anéis de um dos corpos. Santiago ainda abriria um inquérito para investigar possíveis simpatizantes do nazismo entre os sergipanos.
Para saber mais:
PODERJUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE. Desembargador Enoch Mathusalém Santiago. Aracaju, 2008. Disponível em www.tjse.jus.br/paginas/memorial/enoch.pdf , último acesso: 16/11/2023, às 11:53.
Blackouts e Treinamentos de Defesa Antiaérea
A agressão sofrida em território nacional mobilizou o governo brasileiro na adoção de estratégias para o caso de novos ataques. Em Sergipe, a capital Aracaju passou por treinamentos de defesa passiva antiaérea em 1943, com o objetivo de orientar a população sobre os procedimentos a serem adotados em caso de bombardeios aéreos. Simulações foram realizadas tanto durante o dia como durante a noite e além de orientar os sergipanos sobre como se proteger em caso de ataque, esses treinamentos também simulavam o socorro a possíveis vítimas. Além dos treinamentos de defesa antiaérea, os blackouts foi uma outra medida adotada em Sergipe visando a proteção do território. À noite, as luzes precisavam ser apagadas com o intuito de dificultar a visibilidade do inimigo em caso de uma nova agressão. A população também era orientada a não circular em locais públicos a partir de determinado horário. Isso demonstra que, se os efeitos da guerra já vinham sendo sentidos em Sergipe desde 1939, após os torpedeamentos do U-507 eles se acentuaram de forma considerável e a vida cotidiana no estado, especialmente em Aracaju, ficou ainda mais delicada.
Para saber mais, ver:
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.MAYNARD, Andreza Santos Cruz; MAYNARD, Dilton Cândido Santos. Dias de luta: Sergipe durante a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2011.
Serviço de Força e Luz de Aracaju (SLFA)1
Empresa criada pelo estado de Sergipe na década de 1940 para funcionar no lugar da Empresa Tração Elétrica de Aracaju, empreendimento privado dos anos 1930, e cujo maquinário e os muitos operários eram responsáveis pelo abastecimento de energia elétrica em Aracaju.
Em 1942, no contexto da Segunda Guerra Mundial, a empresa estava sob comando de Hormindo Menezes, comerciante que, de acordo com o Processo Crime contra Nelson de Rubina, dirigia-se com frequência à Praia de Atalaia com uma caminhonete para ajudar a recolher os corpos dos náufragos, vítimas dos torpedeamentos de navios na costa brasileira pelo U-507.
Em virtude dos torpedeamentos, em 1943 o estado de Sergipe foi incluído no Plano Nacional de Blackout, o que resultou em grandes lucros para a SLFA, pois as máquinas geradoras paravam durante algumas horas, sofrendo assim menos desgastes e economizando combustível.
Para saber mais:
“Energia Elétrica de ontem”, disponível em: http://www.jornaldodiase.com.br/noticias_ler.php?id=13470 Energisa SE, História da Companhia, disponível em: http://didaticativa.com/historia_companhia.php?id=35
Guerra e Carestia
A II Guerra Mundial trouxe diversos impactos, diretos e indiretos, ao cotidiano de todo o mundo. E com Sergipe não foi diferente. A situação de conflito impôs diversas dificuldades aos sergipanos, desde o transporte público, diante da escassez de bondes na que circulavam na capital, até a falta de uma estrutura de qualidade nos principais hospitais. Mas uma das principais consequências provocadas pelo estado de beligerância foi o aumento nos preços de produtos básicos do dia a dia. A suspensão no fluxo de embarcações devido ao risco de novo de ataques no ajuda a entender esse cenário. Produtos básicos do dia a dia como papel, combustível e gêneros alimentícios sofriam com um constante racionamento. No caso dos alimentos, por exemplo, medidas mais drásticas precisaram ser adotadas. Uma delas foi a criação de uma Comissão responsável por fiscalizar o preço dos alimentos nos estabelecimentos comerciais; também havia a divulgação de listas discriminando os alimentos e seus respectivos valores, que deveriam ser respeitados pelos comerciantes, sujeitos ao pagamento de multas. O objetivo de tais medidas era conter possíveis abusos nos preços repassados ao consumidor. De todo modo, o poder de compra dos sergipanos foi seriamente afetado, tendo em vista que produtos básicos da alimentação sofriam com altas constantes; um dos principais foi pão, que em decorrência da escassez da farinha de trigo passou a ser vendido a preços elevados.
Para saber mais, ver: MAYNARD, Andreza S. C. A Guerra do “pão de ouro”: a variação dos preços de alimentos em Aracaju (1939-1945). In: MAYNARD, Andreza S. C.; BARBOSA, Caroline de Alencar.; MAYNARD, Dilton C. S. (Orgs.). Segunda Guerra: Histórias de Sergipe. Recife: EDUPE, 2016, p. 120-140.
Carnaval
Os festejos carnavalescos em Aracaju também foram afetados pela II Guerra Mundial. No carnaval de 1943, a empolgação dos foliões já não era a mesma registrada nos anos anteriores. Não houve, por exemplo, desfiles de blocos nas ruas das cidades; apenas nos clubes esportivos foram organizados bailes de carnaval. Poucos meses após a tragédia que vitimou milhares de pessoas em território sergipano, é entendível a falta de ânimo dos aracajuanos para o festejo. Mas as interferências da guerra no carnaval não foram sentidas apenas em 1943. No ano seguinte o Chefe de Polícia do estado, Pedro Matos, assinou uma portaria com uma série de regras que deveriam ser obedecidas pelos foliões nos dias de festa. Entre elas podemos mencionar a proibição do uso de máscaras e de fantasias que fizessem referência às corporações civis e militares; a proibição na venda de bebidas alcóolicas, com exceção da cerveja e da champanha; o estabelecimento dos horários de início e fim dos bailes. Além da manutenção da ordem e dos bons costumes, as medidas demonstravam a preocupação do governo sergipano com a segurança dos foliões, bem como com a possível presença de estrangeiros.
Para saber mais, ver: MAYNARD, Andreza Santos Cruz. Carestia e roubo de galinhas: problemas no cotidiano de Aracaju. In: MAYNARD, Andreza Santos Cruz; MAYNARD, Dilton Cândido Santos (Orgs). Leituras da Segunda Guerra Mundial em Sergipe. São Cristóvão: Editora UFS, 2013, p. 31-56.
Espaços de Lazer
Pensar em espaços de lazer é pensar nos espaços destinados à diversão e como eles foram utilizados na Aracaju que vivenciou a Segunda Guerra Mundial. Como esta cidade, tão distante geograficamente da Europa, experimentou o conflito que tomou a atenção dos jornais do mundo durante anos? Em uma época de incerteza, ditadura política e de culto ao trabalho, quais as práticas incentivadas fora do ambiente produtivo?
Estas e outras perguntas nos levam a um interesse nos de 1939 a 1945, tentando entender como diferentes grupos sociais consumiram espaços de diversão e como eles recepcionaram as instruções sobre os comportamentos desejados pelas autoridades da época (Cf. CERTEAU, 1994; PRIORE, 1997).
A partir desses espaços de lazer e sociabilidade, como os cafés, cabarés, praças, restaurantes, bares e clubes da capital sergipana daqueles tempos, podemos prescrutar aspectos ligados ao cotidiano e às “batalhas” pelo controle dos hábitos citadinos em nosso estado.
Para saber mais: BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas. Aracaju em tempos de conflito: estudo dos espaços de lazer na Segunda Guerra (Relatório Final do PIBIC). São Cristóvão, 2014/2015.
Ponte do Imperador
Ancoradouro, atracadouro ou ponte de desembarque, localizada na Avenida Rio Branco, em frente à praça do Palácio e próximo ao Terminal Hidroviário. Construída em madeira no final de 1859 para receber o vapor Apa, da Companhia Brasileira de Paquetes a Vapor, e assistir ao desembarque de D. Pedro II, foi inaugurada em 11 de janeiro de 1860.
Chamou-se Ponte do Desembarque, Ponte do Governador, Ponte Metálica ou Ponte do Presidente, até que por um decreto-lei do Interventor Eronildes de Carvalho, em 1939, passou a ser denominada de Ponte do Imperador D. Pedro II, ou simplesmente Ponte do Imperador.
A Ponte do Imperador sempre atraiu pessoas, em particular casais, por ser considerada um lugar propício para galanteios em noites enluaradas. No contexto da Segunda Guerra Mundial, o local passou a atrair, nas noites de blackout programado, grupos de boêmios que gostavam de cantar e beber ao luar. O ir a ponte transformou-se assim em uma das formas de resistência perante as imposições do Estado Novo, além de ser também uma espécie de reação às medidas de esforço de guerra que foram adotadas por Sergipe.
Para saber mais:
BARRETO, Luiz Antônio. Dicionário de nomes e denominações de Aracaju. Aracaju: Banese, 2002.
MAYNARD, Dilton Cândido Santos. O violinista e a guerra: artistas do rádio, cultura e sociedade em Sergipe no Estado Novo. In MAYNARD, Dilton Cândido Santos (org.). Visões do mundo contemporâneo. São Paulo: LP-Books, 1ªed. 2012.
MEDINA, Ana Maria Fonseca. Ponte do Imperador. Aracaju: Gráfica J. Andrade, 2ª ed., 2005.
Cine Rio Branco
Inaugurado em 1904 pelo italiano Nicolau Pungitori com o nome de Teatro Carlos Gomes, o novo espaço de exibição de Aracaju foi vendido anos depois ao empresário conhecido como Zé Bolacha, que tinha como sócio Juca Barreto. Nesse momento o estabelecimento passou a se chamar Cine e Teatro Rio Branco. O mais antigo cinema da capital sergipana mantinha exibições regulares desde a década de 1910 e sua trajetória foi marcada por eventos importante do ponto de vista do mercado cinematográfico. Além de ter acompanhado mudanças no contexto mundial do cinema, a exemplo da invenção do filme sonoro (1927), o Rio Branco foi em alguns momentos o único espaço de projeção a funcionar na cidade. No contexto da II Guerra Mundial o cinema estava localizado à rua João Pessoa, nº 32 – Centro, considerada na época uma região nobre da cidade. Mantendo uma postura de protagonismo, o Rio Branco foi o primeiro cinema a exibir um filme antinazista em Sergipe, o estadunidense “Confissões de Um Espião Nazista” (1939), produzido pela Warner Brothers. A película estreou em 09 de setembro de 1942, menos de um mês após os torpedeamentos aos navios mercantes pelo U-507 e contribuiu no fomento à propaganda antinazista entre os espectadores sergipanos, que ainda sofriam as consequências do ataque nazista. O espaço manteve exibições de filmes até o fim do século XX. Em 1988 o prédio em que funcionou o Rio Branco foi tombado através do Decreto estadual n. 10. 215, mas em 1991 a medida foi anulada. Atualmente no local funciona uma loja, construído em 2022.
Para saber mais, ver: ANDRADE, Liliane Costa. “Hollywood Declara Guerra”: análise comparada da divulgação dos filmes antinazistas norte-americanos nos jornais do Rio de Janeiro e de Aracaju (1942-1945). 181 f. Dissertação (Mestrado em História Comparada). Programa de Pós-graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2021.
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi: Anos 40 e 50. 4 ed. Aracaju: UNIT, 2011.
Ponto Chic
“Ao Ponto Chic” ou apenas “Ponto Chic”, de propriedade de Augusto Andrade, foi inaugurado em 20 de outubro de 1918 e pode ser considerado o mais famoso café e ponto de encontro de seu tempo. Era um dos cafés que funcionava na esquina das ruas João Pessoa e Laranjeiras, onde posteriormente foi instalada a Delegacia do Ministério do Trabalho, que servia como ponto de encontro da sociedade sergipana e integrava o “circuito cultural” daquelas ruas.Ponto de encontro muito famoso entre os homens, era no Ponto Chic que os sergipanos se encontravam para fazer negócios, tais como Nelson de Rubina que se encontrou ali com um possível comprador para um dos anéis que ele furtara de um cadáver vítima do U-507. Nos difíceis anos da Segunda Guerra, o Ponto Chic era um dos poucos locais de Aracaju onde todos os homens, até os envolvidos com trabalhos relacionados com o governo, podiam se distrair da tensão imposta pela guerra e pela constante vigilância do Estado Novo.
Para saber mais: BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas; TRINDADE, Mônica Porto Apenburg. Café Ponto Chic. In: MAYNARD, Dilton Cândido Santos; MONTEIRO, Vivian Cruz. Lugares, personagens e outras coisas de Sergipe. Recife: EDUPE, 2021.
Cine Guarany
Localizado à rua Estância, nº 1043, esquina com a avenida Pedro Calazans – Centro, o cinema Guarany foi aberto em 1938 pelo empresário Augusto Fernando Luz. Se comparado em Rio Branco e ao Rex o novo cinema não foi considerado tão bem situado, o que gerou desconfiança por parte de um público mais exigente, que chegou a colocar em xeque o nível de qualidade do novo empreendimento. Devido à sua boa estrutura física e à programação oferecida, contudo, o Guarany tornou-se um dos cinemas mais apreciados de Aracaju, chegando a ser comparado com as grandes salas de exibição do Rio de Janeiro, à época capital do país e referência no mercado cinematográfico. E isso contribuiu para impulsionar o desenvolvimento da região na qual o Guarany estava instalado, que recebeu melhorias em decorrência da grande circulação de espectadores que iam ao espaço. Nesse sentido é válido destacar que o Guarany recebia pessoas de diferentes classes sociais, que se dividiam em dois espaços: a parte térrea, composta por cadeiras enfileiradas, mais confortáveis e com bilhetes mais caros; e a parte superior, também conhecida como “Geral”, formada por bancos sem encosto, mais afastada do telão mas com preços mais acessíveis. Tido como um dos mais queridos e aconchegantes cinema aracajuanos, o Guarany encerrou suas atividades em 1962.
Para saber mais, ver: ANDRADE, Liliane Costa. “Hollywood Declara Guerra”: análise comparada da divulgação dos filmes antinazistas norte-americanos nos jornais do Rio de Janeiro e de Aracaju (1942-1945). 181 f. Dissertação (Mestrado em História Comparada). Programa de Pós-graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2021.
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi: Anos 40 e 50. 4 ed. Aracaju: UNIT, 2011.
Cine Rex
O cinema Rex foi inaugurado em 1935 por Anísio Dantas. O novo empreendimento, contudo, não dispunha de instalações adequadas para o seu bom funcionamento. Inicialmente o Rex funcionou em um galpão de madeira que permitia a entrada de feixes de luz, o que interferia na qualidade da exibição das películas. O problema só foi resolvido quando houve a mudança de endereço da rua Pacatuba para a rua Itabaianinha, nº 44, ambas localizadas no Centro de Aracaju. Com isso, a partir de 1940 o Rex passou a funcionar em um prédio de alvenaria com capacidade para receber 1.200 espectadores e com uma nova aparelhagem. Durante a II Guerra, portanto, os espectadores sergipanos já contavam com um cinema mais confortável e adequado em relação as exibições fílmicas tanto internacionais, especialmente as hollywoodianas, como as nacionais. Foi no Rex, por exemplo, que ocorreu a estreia do filme brasileiro Samba em Berlim, dirigido por Luiz de Barros e produzido pela Cinedia em 1943, com um viés antinazista. No ano de 1945 o empreendimento foi arrendado por um empresário baiano e em 1961 fechou suas portas.
Para saber mais, ver: ANDRADE, Liliane Costa. “Hollywood Declara Guerra”: análise comparada da divulgação dos filmes antinazistas norte-americanos nos jornais do Rio de Janeiro e de Aracaju (1942-1945). 181 f. Dissertação (Mestrado em História Comparada). Programa de Pós-graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2021.
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi: Anos 40 e 50. 4 ed. Aracaju: UNIT, 2011.
Cine São Francisco
O cinema São Francisco foi inaugurado 1938 pela Ordem Terceira de São Francisco e ficou sob administração de frades alemães. Endereçado na Praça Siqueira de Menezes, Santo Antônio, era o único dos cinemas aracajuanos que não estava situado no centro da cidade, o que interferia diretamente nos preços cobrados pelos bilhetes, que acabavam sendo vendidos a preços inferiores se comparado aos demais cinemas. Um outro fator que exercia influência na venda nos ingressos era o fato do São Francisco sempre projetar filmes que já haviam sido exibidos em algum outro cinema do centro. Para além das questões puramente cinematográficas, a história do São Francisco é marcada por um acontecimento polêmico. Em 1942, após os torpedeamentos aos navios mercantes brasileiros pelo U-507, os frades alemães que administravam o cinema foram acusados de terem colaborado com os ataques. Boatos que circulavam na época alegavam que os religiosos utilizaram o projetor para emitir sinais luminosos a fim de guiar o submarino alemão nos ataques realizados no litoral sergipano. Tudo, porém, não passou de boataria, já que não havia nenhuma prova que atestasse a colaboração dos frades e, portanto, não houve nenhuma investigação por parte da polícia.
Para saber mais, ver: ANDRADE, Liliane Costa. “Hollywood Declara Guerra”: análise comparada da divulgação dos filmes antinazistas norte-americanos nos jornais do Rio de Janeiro e de Aracaju (1942-1945). 181 f. Dissertação (Mestrado em História Comparada). Programa de Pós-graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2021.
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi: Anos 40 e 50. 4 ed. Aracaju: UNIT, 2011.
Cine Vitória
A inauguração do cinema Vitória ocorreu em meio ao conflito mundial, no dia 23 de outubro de 1943, e contou com a participação de autoridades políticas como o prefeito da capital e o Interventor Federal, além de representantes da imprensa e habitantes. Localizado na rua Itabaianinha, no edifício PIO XI, que pertencia ao Círculo Operário de Aracaju, o primeiro filme exibido na nova sala de projeção tinha relação direta com a guerra: E as luzes brilharão outra vez (1942), uma produção de propaganda antinazista elaborada pela RKO Pictures. Além dessa empresa, o Vitória negociava diretamente com a Paramount e com a 20th Century-Fox a fim de contratar suas películas, uma prática comum no período. Com capacidade para capacidade para acomodar 1.000 pessoas, o novo espaço realizava projeções em dois horários fixos: matinée (15h) e soirée (19h30); além de sessões matinais que ocorriam aos domingos, iniciando às 10h. E assim como ocorria em outros cinema, o Vitória também operava com distinção nos preços dos bilhetes, que variavam de acordo com o horário da sessão e com o local da acomodação; enquanto o balcão possuía valores mais acessíveis se comparado à poltrona. Vinculado à Igreja Católica, o cinema Vitória funcionou até o ano de 1983.
Para saber mais, ver: ANDRADE, Liliane Costa. “Hollywood Declara Guerra”: análise comparada da divulgação dos filmes antinazistas norte-americanos nos jornais do Rio de Janeiro e de Aracaju (1942-1945). 181 f. Dissertação (Mestrado em História Comparada). Programa de Pós-graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2021.
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi: Anos 40 e 50. 4 ed. Aracaju: UNIT, 2011.
Beco dos Cocos
Formado pela proximidade de dois quarteirões que fazem fronteira com o prédio da Alfândega, entre a Praça General Valadão e os Mercados Centrais Antônio Franco e Thales Ferraz, era o maior reduto boêmio da capital sergipana em meados dos anos de 1940, e uma das principais zonas de prostituição, concentrando uma quantidade significativa de cabarés, boates e cafés.
Nessa época, a região passou a reunir artistas, intelectuais e pessoas dos mais variados segmentos sociais em busca de divertimento, para encontrar os amigos e não somente para se relacionar com as mulheres, se conferindo em um dos poucos lugares em Aracaju, nos rígidos anos de conflito mundial, que serviam para os homens com “salários menores que o mês” se distraírem.
Publicado em: BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas. Beco dos Cocos. In: MAYNARD, Dilton Cândido Santos; MONTEIRO, Vivian Cruz. Lugares, personagens e outras coisas de Sergipe. Recife: EDUPE, 2021.
Vaticano
Edifício de dois pavimentos que ocupava um quarteirão, idealizado por José da Silva Ribeiro, foi construído com a finalidade de abrigar um prédio comercial, ocupando uma porção considerável do Beco dos Cocos, da rua Santa Rosa à Avenida Otoniel Dórea.
Edificação, de acordo com Murilo Melins, em Aracaju romântica que vi e vivi, de dois pavimentos, com dezenas de quartos e pequenos apartamentos, no interior havia uma praça, e no térreo, onde funcionava casas comerciais, existia armazém de secos e molhados e casas de ferragens. Já no pavimento superior, de dia, e principalmente à noite, funcionavam diversos cabarés, se tornando também um espaço de moradia para muitas pessoas, inclusive para mulheres que se prostituíam nas proximidades.
Espaços como o Vaticano e o Beco dos Coco no cotidiano da Segunda Guerra Mundial, representavam em Aracaju umas das poucas diversões possíveis às pessoas de baixa renda. Além disso, as dependências do edifício Vaticano foram usadas como abrigo durante os Treinamentos de Alerta Aéreo diurnos, a exemplo do ocorrido, e relatado por Murilo Melins, em 2 de março de 1943.
Para saber mais: BARRETO, Luiz Antônio. Dicionário de nomes e denominações de Aracaju. Aracaju: Banese, 2002.
MAYNARD, Andreza Santos Cruz; MAYNARD, Dilton Cândido Santos. Dias de luta: traços do cotidiano em Aracaju (1939 – 1945). OPSIS, Catalão, v. 9, n. 12,.jan-jun 2009.MELINS, Murilo. Aracaju romântica que vi e vivi: anos 40 e 50. Aracaju: UNIT, 2010.
Zona do Bomfim
Hoje rua Sete de Setembro, a rua ou zona do Bomfim abrangia trechos do centro da cidade de Aracaju, estendendo-se até as proximidades do Aribé, e era a principal zona do meretrício aracajuano, polo de atração da cidade por muitos anos por abrigar a grande maioria dos cabarés, além de jogos, casas noturnas, ponto de encontro, bodegas por onde circulava parcela da população. A rua do Bonfim era via de acesso à Rua Siriri e ao Beco dos Cocos, outros locais que também possuíam o comércio de sexo.
Lugares como a Rua do Bomfim eram quase a única forma de “diversão” existente para trabalhadores de baixa renda frequentarem, principalmente nos difíceis anos da Segunda Guerra Mundial, que em muito afetaram o cotidiano dos aracajuanos.
Para saber mais: BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas; SANTOS, Priscila Antônia dos. Zona do Bomfim. In: MAYNARD, Dilton Cândido Santos; MONTEIRO, Vivian Cruz. Lugares, personagens e outras coisas de Sergipe. Recife: EDUPE, 2021.
Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda – DEIP
Antes denominado por Departamento de Propaganda e Divulgação Estadual (DPDE), era o órgão estatal responsável por gerenciar a cultura e realizar a autopropaganda em Sergipe, fora criado por Decreto Federal em fevereiro de 1939, sendo apenas em 1941 transformado em Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, ou simplesmente DEIP.
Funcionado no térreo ao lado sul do Palácio do Governo, o DEIP serviu para aperfeiçoar a proposta do DPDE, sediado no Salão nobre da Biblioteca Pública Estadual, foi responsável por sistematizar ainda mais o controle cultural já exercido pelo Estado Novo. Organismo estatal dedicado a propagandear os atos e projetos dos homens do governo e a implantar um veículo de comunicação em massa – a primeira rádio difusora sergipana, estava envolvido em eventos diversos, apesar de contar com um modesto número de funcionários.
Responsável pela construção de representações idealizadas, o DEIP colocou em funcionamento um conjunto de mecanismos dedicados a construir um imaginário social nos sergipanos favorável à conjuntura política até então vigente.
Para saber mais: MAYNARD, Andreza Santos Cruz. A cultura a serviço da política: órgãos oficiais, censura e propaganda durante o Estado Novo em Sergipe. Revista do IHGSE, v.1, n.44, 2014, p.51-66. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/rihgse/article/view/12428/9374, último acesso: 16/11/2023, às 11:37.MAYNARD, Dilton Cândido. O “notável empreendimento”: Estado Novo, propaganda política e radiofusão em Sergipe. Revista Saeculum, n. 16, 2007, p.1-13. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/srh/article/view/11375/6489, último acesso: 16/11/2023, às 11:36.
Correio de Aracaju
O Correio de Aracaju foi fundado em 1906. Ao longo dos anos passaram pela direção do periódico nomes como João Menezes, Edson de Oliveira Ribeiro, Manuel Xavier de Oliveira, Heribaldo Vieira e Leandro Maciel. Ao longo da II Guerra o impresso sofreu algumas mudanças em sua equipe editorial: de setembro de 1939 até o início de março de 1941, possuía A. Garcia Filho na função de redator-gerente; de março de 1941 até 1945, o advogado e promotor público Luiz Garcia assumiu a direção enquanto Zozimo Lima passou a ser o redator-chefe do periódico, que ostentava o fato de ser o mais antigo jornal em circulação no estado. Com oficinas e redação localizadas na Avenida Rio Branco, nº 34, a capa do periódico era dedicada às principais notícias acerca do conflito mundial. Além de textos, o Correio de Aracaju também exibia e explorava fotografias, geralmente relacionadas ao assunto de maior destaque de cada edição. Em meio às dificuldades impostas pelo conflito mundial, entre os anos de 1942 e 1943 o Correio de Aracaju, assim como outros jornais do período, aumentou o preço de suas assinaturas e números avulsos. Para justificar tal ato, trouxe à tona a elevação nos custos de produção, especialmente no que se refere ao papel, que segundo o próprio periódico havia aumentado mais 400%, evidenciando que os efeitos da II Guerra Mundial foram além dos campos de batalha, impactando o cotidiano da população nas diversas partes do mundo.
Para saber mais, ver: ANDRADE, Liliane Costa. “Hollywood Declara Guerra”: análise comparada da divulgação dos filmes antinazistas norte-americanos nos jornais do Rio de Janeiro e de Aracaju (1942-1945). 181 f. Dissertação (Mestrado em História Comparada). Programa de Pós-graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2021.MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
A Cruzada
Periódico informativo ligado à Arquidiocese de Aracaju, objetivava difundir os preceitos cristãos e os valores morais no Estado de Sergipe, por meio de artigos, discursos e composições literárias produzidas pelos seminaristas alunos do Seminário Sagrado Coração de Jesus de Aracaju.O referido periódico circulou entre os sergipanos de 1918 à 1925; de 1935, aliado a criação do Conselho de Imprensa da Diocese, à 1943; e da década de 1950 à década de 1960, sempre se constituindo como um veículo para levar ao mundo operário a Doutrina Social da Igreja, expressa pelas Encíclicas Sociais: Rerum Movarum, do Papa Leão XIII, e a Quadragésimo Anno, do Papa Pio XI.
Para saber mais: LINHARES, Ronaldo Nunes; SÁ, Rozendo de Aragão; SILVA, Elbênia Marla Ramos. Notas sobre educação sergipana na primeira metade do séc. XX no jornal católico “A Cruzada”. Disponível em http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/R4-0622-1.pdf DANTAS, Maria José; FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno de. Impressos Católicos em Sergipe e suas contribuições para a História da Educação. Disponível em http://ri.ufs.br/bitstream/123456789/1062/1/ImpressosCatólicos.pdf , acessado 03/03/2015.
Sergipe Jornal
O Sergipe Jornal foi um periódico fundado em 1919. Com redação e oficina localizadas à rua São Cristóvão, nº 181, no centro de Aracaju, o periódico se intitulava como um “Órgão Independente e Noticioso”. Durante a II Guerra Mundial o jornal vivenciou duas fases: até 1942 manteve um perfil leal aos princípios do Estado Novo; já durante a administração dos advogados Mário Cabral (1914-2009) e Paulo Costa (1921-1961), o Sergipe Jornal chegou a desafiar DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) e o DEIP/SE (Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda). As capas das edições do impresso eram compostas por informações mais técnicas como título e subtítulo; nomes dos diretores; ano e número ao qual a edição equivalia; cidade, dia e data da publicação; e pelas principais notícias, a nível nacional e internacional, sobre o conflito que se desenrolava desde setembro de 1939. Além disso, anúncios de serviços ou produtos eram bastante comuns no periódico, que em 1944 comemorou seus 25 anos de existência publicando um texto que exaltava os ideais de democracia, liberdade, justiça e confraternização humana, e repudiando manifestações de prepotência, força bruta e abuso de poder, em um claro posicionamento contra o Estado Novo, bem como contra as ações promovidas pelo Eixo durante o conflito mundial. Entre 1942 e 1945, os preços cobrados pelo jornal variavam de acordo com o tipo da assinatura: Cr$ 70,00 (assinatura anual); Cr$ 35,00 (assinatura semestral); Cr$ 20,00 (assinatura trimestral); Cr$ 7,00 (assinatura mensal); Cr$ 0,30 (número avulso); Cr$ 0,50 (número atrasado).
Para saber mais, ver: ANDRADE, Liliane Costa. “Hollywood Declara Guerra”: análise comparada da divulgação dos filmes antinazistas norte-americanos nos jornais do Rio de Janeiro e de Aracaju (1942-1945). 181 f. Dissertação (Mestrado em História Comparada). Programa de Pós-graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2021.MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
Folha da Manhã
O jornal Folha da Manhã foi fundado em 1938 por Adrolado Campos. Pouco tempo depois, em 1941, foi vendido a Manuel Vicente de Brito, que atribuiu ao padre José Soares de Brito a responsabilidade de assumir a direção do novo periódico. Com publicações diárias de iam de segunda-feira a sábado, contendo em média de 4 a 6 páginas, o Folha da Manhã tinha como principal tema das suas edições a II Guerra Mundial, assim como ocorria com os demais jornais sergipanos. Na capa de cada número, além de notícias locais, nacionais e internacionais acerca do conflito, também era possível encontrar informações mais técnicas sobre o impresso, a exemplo do nome do diretor; a informação de que o impresso estava em sua segunda fase; a cidade, o dia e a data de publicação da edição; além do número ao qual ela representava. Intitulado como sendo o “Arauto do progresso de Sergipe”, o periódico inicialmente possuía sua administração e redação localizadas à Rua de Laranjeiras, nº 362, mas em dezembro de 1942 o novo endereço passou a ser a Rua de São Cristóvão, nº 164. Se comparado ao Correio de Aracaju e ao Sergipe Jornal, o Folha da Manhã possuía preços mais em conta. Contudo, a crise imposta pela situação de guerra forçou o jornal a realizar, a partir de 1944, uma mudança na sua periodicidade, que passou de diária para semanal.
Para saber mais, ver: ANDRADE, Liliane Costa. “Hollywood Declara Guerra”: análise comparada da divulgação dos filmes antinazistas norte-americanos nos jornais do Rio de Janeiro e de Aracaju (1942-1945). 181 f. Dissertação (Mestrado em História Comparada). Programa de Pós-graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2021.MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
Rádio Difusora Aperipê de Sergipe (PRJ-6)
Instituída por decreto federal em 1939 e pioneira no Estado de Sergipe, a rádio possuía por função divulgar a versão oficial sobre os acontecimentos e formar opiniões que legitimassem o regime estado novista. Funcionava no prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, situado na rua Itabaianinha número 43, e teve por primeiro diretor geral João Bezerra, amigo do interventor Maynard Gomes, e por diretor artístico Alfredo Gomes. Alguns anos depois, a rádio passou a funcionar no prédio anexo ao Palácio Serigy, passando posteriormente à iniciativa privada em 1942, sob as mãos de Augusto Luz, proprietário do Guarany, que auxiliou a PRJ-6 a ganhar as feições de broadcasting, sob direção de Cláudio Silva.
Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, a programação da rádio, que até então possuía programas de auditório, informativos e cobertura dos grandes eventos da cidade, passou a concentrar esforços para construir representações do evento mundial para os sergipanos.
Para saber mais:
MAYNARD, Dilton Cândido Santos. O violinista e a guerra: artistas do rádio, cultura e sociedade em Sergipe no Estado Novo. In MAYNARD, Dilton Cândido Santos (org.). Visões do mundo contemporâneo. São Paulo: LP-Books, 1ªed. 2012.MELINS, Murilo. Aracaju romântica que vi e vivi: anos 40 e 50. Aracaju: UNIT, 2010.
Carnera
Urcino Fontes de Araújo Góes, ou simplesmente Carnera, nasceu em Riachão do Dantas, em 26 de julho de 1920, mas foi criado em Boquim, ambos municípios sergipanos, vindo residir em Aracaju aos seis anos.
Violinista e compositor de 1,75 de altura e aproximadamente 40 Kg recebeu de seu amigo de juventude, Heráclito Diniz, o apelido de Carnera em referência ao boxeador e campeão mundial dos pesos pesados, o Primo Carnera.
Ele entrou em contato com a vida boêmia de Aracaju, frequentando cabarés e bares, palcos improvisados, construiu sua rede de amizades que o levaria ao universo da rádio. Considerado por muitos o pioneiro na radiofusão, Carnera se tornou líder entre os artistas sergipanos nos anos de 1930 a 1950, “dono” de programas de rádio e diretor do Conjunto Regional da PRJ-6, no qual fez grande sucesso se apresentando em grandes clubes da cidade, como Sergipe Cotinguiba, além do Recreio Club e no Cine Teatro Rio Branco.
Apesar das inúmeras restrições impostas pelo Estado Novo, que se ampliaram em Sergipe após os torpedeamentos no litoral, boêmios como Carnera desafiavam tais sanções em nome da diversão, possuindo passes-livres para circulação em noites de blackout programado.
Carnera muito contribuiu para o avanço da emissora Aperipê, porém, quando morreu aos 83 anos, já não mais era conhecido como outrora entre os sergipanos.
Publicado em: BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas. Carnera. In: MAYNARD, Dilton Cândido Santos; MONTEIRO, Vivian Cruz. Lugares, personagens e outras coisas de Sergipe. Recife: EDUPE, 2021.
Força Expedicionária Brasileira (FEB)
Como consequência dos torpedeamentos promovidos pelo U-507, em 22 de agosto de 1942 o governo brasileiro declarou guerra ao Eixo, com quem já havia rompido relações diplomáticas e comerciais, em janeiro do mesmo ano. Nesse contexto, um passo importante tomado pelo Estado Novo (1937-1945) foi a criação de uma Força Expedicionária Nacional (FEB), em agosto de 1943. Os brasileiros foram enviados para lutar em Monte Castelo, na Itália. Destes, cerca de trezentos eram sergipanos residentes no estado à época do conflito e estavam divididos em dois grupos: os convocados, militares de carreira, e os voluntários. Tanto da capital como do interior partiram pracinhas com uma média de idade que variava entre 18 e 28 anos. As profissões que estes homens desempenhavam antes de irem à guerra eram as mais variadas: marceneiro, pequeno comerciante, jardineiro, agricultor, pedreiro, mecânico, motorista, militar, médico, engenheiro, entre outras. No retorno para casa, após a vitória nos combates travados na Itália, os pracinhas sergipanos foram recebidos com festividade. As homenagens aos ex-expedicionários, que chegavam em pequenos grupos, foram realizadas tanto na capital como em outros municípios do estado.
Para saber mais, ver: OLIVEIRA, Marlíbia Raquel de. Expedicionários sergipanos: o antes de ir e o regressar da guerra. In: MAYNARD, Andreza S. C.; BARBOSA, Caroline de Alencar.; MAYNARD, Dilton C. S. (Orgs.). Segunda Guerra: Histórias de Sergipe. Recife: EDUPE, 2016, p. 141-174.
Espaços de memória
Os torpedeamentos dos U-507 vitimaram centenas de pessoas. Vários corpos iam chegando nas praias. Alguns deles conseguiam ser identificados em virtude do razoável estado de conservação ou de algum objeto que os distinguissem, podendo assim serem enterrados como manda a tradição. Outros, porém, já se encontravam em avançado estado de putrefação a ponto de não conseguirem ser identificados. Era preciso assim recolher tais corpos e proporcionar-lhes um enterro digno. Muitos se prestaram ao serviço de coleta desses corpos, que acabaram sendo enterrados próximo a localidade de onde tinham sido recolhidos, criando assim um cemitério nas dunas do Mosqueiro. O mesmo posteriormente, pelo Decreto nº 2.571/1973, seria denominado Cemitério dos Náufragos, em homenagem às vítimas dos torpedeamentos de 1942. Na mesma região foi inaugurada em 21 de novembro de 1980 a rodovia dos náufragos, uma das principais vias de acessos às praias sergipanas. Assim como cemitério, a rodovia recebeu esse nome em homenagem às vítimas das embarcações atacadas em agosto de 1942. Desse modo, os dois locais contribuem para salvaguardar a memória desse que é um episódio marcante para a história de Sergipe.
Para saber mais, ver: ALENCAR, Caroline Barbosa de; ROSA, Roberta da Silva. Rodovia dos Náufragos. In: MAYNARD, Dilton Cândido Santos; MONTEIRO, Vivian Cruz. (Orgs). Lugares, personagens e outras coisas de Sergipe. Recife: Edupe, 2021, p. 178-179.MELLO, Janaína Cardoso de; CERQUEIRA, Rafael Santa Rosa. Cemitério dos náufragos: uma proposta de arqueologia histórica em Sergipe. Disponível em: www.seer.ufs.br/index.php/tempo/article/viewFile/2680/2313
Exposições sobre a temática
Levando em consideração a importância da temática da Segunda Guerra Mundial e da sua ligação com o nosso estado, o Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq) já realizou duas exposições acerca do assunto, a saber: a exposição intitulada “Sergipe viu a guerra”, em 2016; e a exposição intitulada “Aracaju: a capital que viu a guerra”, em 2022.
Pensada para evidenciar como os meios de comunicação trouxeram a Segunda Guerra Mundial para o dia-a-dia dos sergipanos, a exposição “Sergipe viu a guerra” esteve em cartaz no Palácio Museu Olímpio Campos, entre 18 de abril e 13 de maio de 2016.Já com relação à memória dos 80 anos dos torpedeamentos no litoral de nossa costa, pelo submarino alemão U-507, o GET lançou a exposição intitulada “Aracaju: a capital que viu a guerra”, que buscou evidenciar como a Segunda Guerra Mundial se fez presente na cidade, tanto pelas notícias veiculadas nos meios de comunicação da época, quanto com os torpedeamentos ocorridos entre 15 e 17 de agosto de 1942, alterando a rotina dos aracajuanos, que passaram a conviver, entre outras coisas, com o medo de novos ataques. Num formato itinerante, a exposição ficou em cartaz de 17 de agosto a 16 de setembro de 2022, no Centro Cultural de Aracaju; de 17 de setembro a 16 de outubro de 2022 no Aracaju Parque Shopping; e de 17 de outubro a 17 de novembro de 2022 no Shopping Riomar.
Para saber mais: BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas Barros. Aracaju e a Segunda Guerra Mundial. Infonet, 18 de agosto de 2022.