Katty Cristina Lima Sá
Graduanda em História na Universidade Federal de Sergipe
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)
katty@getempo.org
Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard

A edição de 2014 do Berlinale, Festival Internacional de Cinema de Berlim, marcou a consagração do ator George Clooney como diretor com o filme “The Monument Man”, ou “Caçadores de Obras Primas” no título em português. Baseado na obra com mesmo título de Robert Edsel, lançada no Brasil em 2011 pela editora Rocco. A película conta a história do batalhão dos Aliados formado durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em 1943, com aval do presidente norte-americano Franklin Roosevelt.
Comandado pelo veterano da Primeira Guerra (1914-1918) e especialista em artes de Harvard, George Stout (1897-1978), renomeado no longa para Frank Stkoes (interpretado por George Clooney), o grupo era formado por homens de diversas nacionalidades ainda que na película sejam retratados apenas sete integrantes com origem britânica, estadunidense e francesa, não se encaixavam no modelo “soldado padrão”: tinham idade avançada, eram chefes de família e especialistas em artes de grande museus e universidades, sem experiência militar. O objetivo desses homens era proteger as obras de artes e monumentos ameaçados pelos constantes bombardeios aéreos na Europa, porém a missão é redirecionada para o resgate das obras de artes roubadas pelos nazistas, com o intuito devolvê-las aos seus verdadeiros donos.
Como destacado na película, o líder alemão e artista frustrado Adolf Hitler, conservava uma grande admiração pela arte, por isso era comum saque de produções artísticas, provenientes em maioria de coleções particulares judaicas e de instituições com acervos artístico das regiões ocupadas, em especial francesas, centro cultural da época.O Fuhrer desejava usar os frutos desses roubos para dar vida ao projeto do grande museu que seria construído em Linz, na Áustria; seu objetivo esteve perto de ser concretizado pelo menos no que se refere em tamanho e diversidade de acervo: foram encontradas por volta de 6 mil peças em uma mina de sal na cidade de Altaussee, entre elas a “Madona” de Michelangelo e “O Astrônomo”, de Vermeer. No filme são ressaltados os roubos de pinturas e esculturas, porém milhares de livros, manuscritos e joias também fizeram parte do acervo nazista.
Algumas adaptações na história foram realizadas para o roteiro do filme, como o grande heroísmo dado aos personagens e a pouca variação das nacionalidades, porém algo que não foi questionado é a importância da única personagem feminina Rose Valland (1898 – 1980), artista formada pela Universidade Sorbonne e curadora do museu francês Je de Paume, no filme renomeada para Claire Simone (interpretada por Catherine Blanchet). Valland continuou trabalhando no museu após a ocupação da França e foi testemunha dos saques nazistas. Como sabia falar alemão, conseguiu fazer com base no que ouviu dos oficiais alemães um catálogo com as obras roubadas da instituição em que trabalhava e de coleções particulares. Tal atitude contribuiu para a localização e devolução dos artigos roubados.
O batalhão apresentado na película tem sua história finalizada em 1945, quando os soviéticos chegam a Berlim, porém ele só foi oficialmente encerrado na vida real no ano de 1951. No entanto, sua missão não acabou, visto que boa parte das obras recuperadas ainda não foram reclamadas e devolvidas aos seus respectivos donos. Boa parte dessas obras, 140 mil só nos Estados Unidos, estão na posse de museus de universidades, esperando seus herdeiros legítimos. Cabe ressaltar que é difícil encontrar os proprietários desses objetos porque os mesmos possuem lacunas em sua história de compra e venda durante o período de vigência do Terceiro Reich (1933-1945), para resolver tal situação a Associação Americana de Museus criou o Nazi-Era Provenance Internet Portal, onde os internautas conseguem ver o catálogo de obras sem identificação de proprietários e podem ajudar a preencher as lacunas nas histórias dos mesmos.
Ao mostrar parte de uma história que após setenta do fim da II Grande Guerra possui pendências. O longa-metragem de George Clooney chama atenção para uma outra batalha travada durante e após a Segunda Guerra Mundial, que por várias vezes passou despercebida nas produções que abordam o conflito: a batalha por preservar parte da cultura ocidental, objetos de arte que nos influenciaram em nosso modo de ser e pensar, e que revelam parte do que somos hoje. Além disso, a obra possibilita o diálogo sobre o destino das obras roubadas durante conflitos e recuperadas no posterior à guerra.
Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/os-cacadores-de-obras-primas/ em 29/07/2015